Além das fronteiras coloniais

Sabemos que a atual configuração geográfica da África foi feita pelos colonizadores, ignorando completamente critérios étnicos, religiosos, culturais e sociais presentes no continente e que, historicamente, demarcavam diferenças.  No entanto, ainda que sejam visíveis as fronteiras impostas por colonizadores, são ainda mais fortes e expressivos os elos e raízes culturais e eles permanecem. Idiomas e dialeto étnicos explicitam esse aspecto. A primeira vez que notei isso foi quando estava em um vilarejo da Gambia que fazia fronteira com o Senegal. Fui recebido por uma senhora que era a chefe do local. Comigo falava em inglês, o idioma dos ex-colonizadores da Gambia. Seu esposo, contudo, comigo falava em francês, pois havia nascido no vilarejo vizinho que fazia parte do território senegalês, antiga colônia francesa.  Ela não falava em francês e ele não falava em inglês. Como então se entendiam? Apesar de terem nascidos em países diferentes, ambos pertenciam a mesma etnia, falavam, portanto, o mesmo dialeto. Tenho visto esse fenômeno em quase todos os países aqui da África. As línguas europeias são utilizadas apenas quando precisam se comunicar com um estrangeiro.

Open chat