Dia 345

El DERECHO a viajar

(versíon en español y portugués/ versão em espanhol e português)

[ESPAÑOL]

Aquí en Perú he conocido a muchos viajeros/viajeras, la mayoría de ellos/ellas en bicicleta y casi todos/todas de Europa, Estados Unidos y algunos/algunas de Australia y muy pocos de Latino América. ¿Cómo explicar este fenómeno? Algunos dirán que los “gringos” tienen más dinero que nosotros. Es cierto que su dinero vale más que el nuestro, esto es innegable, sin embargo, todo/todas los/las que conocí, sin excepción, no son ricos / ricas, al contrario, son personas que trabajaron y ahorraron para poder viajar de la manera más modesta posible, comen comida callejera y no les importa compartir una habitación con otros viajeros o dormir en carpas . Si,   ahorrar para viajar es un privilegio, porque la mayoría de las personas que conozco no gana lo suficiente para ahorrar, solo ganan para SOBREVIVIR.

Estoy viajando casi sin dinero y gastando muy poco. Entonces la pregunta sigue: ¿por qué la gente en nuestro continente no viaja? Para tratar de reflexionar sobre este tema, recuerdo las palabras de Frei Betto, un fraile dominico, en una de sus conferencias en mi ciudad: ” Nuestra gente no tiene acceso a los derechos básicos y esta precariedad es tan naturalizada por el sistema económico que ni siquiera se dan cuenta de lo que les falta”. Una vez que tienen pan perciben que esto no es suficiente, necesitan igualmente de educación y salud. Garantizado estos derechos y otros, es comprensible y necesario reclamar bibliotecas públicas, acceso a teatros, música, poesía y arte en general. Entonces, ¿cómo darse cuenta de que pueden viajar si esta posibilidad nos les fue presentada? Los viajeros que conozco se ven a sí mismos como  portadores del DERECHO a viajar porque ya tienen otros derechos garantizados. La filósofa estadounidense Judith Butler dice que los que preguntan qué es una vida digna es porque ya tienen acceso a una vida digna.

“Cree en tus sueños, sigue adelante y ellos se harán realidad”. No me gusta este tipo de discurso no porque algunos sueños no se convierten en realidad y / o porque esto puede generar frustración. El gran problema en mi opinión es que algunas personas no se dan cuenta de que tienen el derecho de soñar y ver otros mundos y posibilidades porque para ellos lo que existe es únicamente el presente con su gran lucha por la supervivencia. El hecho de que me veo capaz de viajar a pie no es el resultado de un esfuerzo personal o una habilidad extraordinaria, esto deriva del hecho de que en un momento de mi vida  tuve  acceso a los derechos básicos y me vi con el derecho de soñar y ver que viajar a pie podría ser una posibilidad.

[PORTUGUÊS]

O DIREITO de viajar

Aqui no Peru tenho encontrado muitos viajantes, a maioria deles/delas em bicicleta e quase todos/todas da Europa, dos Estados Unidos e alguns/algumas da Austrália, poucos, bem poucos da América Latina. Como explicar esse fenômeno? Alguns dirão que os “gringos” têm mais dinheiro que nós. É verdade que o dinheiro deles vale mais que o nosso, isso é inegável, no entanto, todos e todas que conheci, sem nenhuma exceção, não são ricos/ricas, ao contrário, são pessoas que trabalharam e economizaram para poder estar viajando da maneira mais modesta possível, comem comida de rua e não se importam em dividir o quarto com outros/outras viajantes. Sim,  o fato de economizarem para viajar é um privilégio, pois a maioria das pessoas que conheço não ganha o suficiente para poder economizar,  ganham apenas para poder SOBREVIVER.

Eu estou viajando quase sem dinheiro e gasto muito pouco. Portanto, segue a pergunta: porque as pessoas de nosso continente quase não viajam? Para tentar refletir sobre essa questão recordo das palavras do Frei Betto em uma de suas palestras em Porto Alegre: “nosso povo não tem acesso aos direitos básicos e essa precariedade é de tal forma naturalizada pelo sistema econômico que sequer percebem o que lhes falta”. Uma vez que têm pão se dão conta que isso não basta, é preciso educação e saúde. Garantidos esses direitos e outros é compreensível e necessário que reivindiquem bibliotecas públicas, acesso a teatros, à música, poesia e à arte em geral. Portanto, como perceber que podem viajar se esta possibilidade não lhes foi apresentada? Os viajantes que encontro se vêem como portadores do DIREITO de viajar porque já tiveram outros direitos garantidos. A filósofa americana Judith Butler diz que os/as que perguntam o que é uma vida digna é porque já têm acesso a uma vida digna.

“Acredite nos teus sonhos, siga em frente e eles se tornarão realidade”. Não gosto desse tipo de discurso não porque alguns sonhos não se realizam e/ou porque isso pode gerar frustração. O grande problema em minha opinião é que algumas pessoas não percebem que têm o direito de sonhar e ver outros mundos e possibilidades porque para elas o que existe é apenas o presente com sua grande luta por sobrevivência. O fato de perceber-me capaz de viajar a pé  não é fruto de um esforço pessoal ou de uma capacidade extraordinária, deriva, na verdade, do acesso que tive a direitos básicos e me vi com o direito de sonhar e percebi que viajar a pé poderia ser uma possibilidade.

 

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